A substituição de Abrigos Das Paragens De Autocarros e Eléctricos no Porto não visa o conforto dos Utentes, mas facilitar o negócio da publicidade
O processo de substituição dos abrigos das paragens de transportes públicos de passageiros que está a decorrer na cidade do Porto enferma de vários problemas que são um reflexo das opções e características da actual maioria camarária.
Em primeiro lugar, esta substituição não tem como objetivo fundamental melhorar as condições de conforto dos utentes dos transportes públicos, mas sim proporcionar, a privados, o chorudo negócio da concessão da publicidade na via pública na cidade do Porto.
Este é um traço caracterizador da gestão de Rui Moreira, que tem outros exemplos, o mais expressivo dos quais a concessão de parcómetros a privados – que não visa a regulação do estacionamento e da mobilidade, mas sim a política de “caça níqueis” rentabilizada por um privado.
Este “pecado original” ajuda a compreender a razão para algumas opções em matéria de conceção dos abrigos. Por exemplo, o facto de haver uma parede opaca do lado que se aproxima o autocarro/elétrico – impedindo aos utentes verificar a aproximação dos mesmos e, em particular, a identificação da carreira – visa aproveitar o plano com mais visibilidade para os condutores para fins publicitários.
Esta subversão de objetivos – primazia à exploração publicitária em vez do conforto dos utentes – traduz-se, também, em diversos problemas na concepção dos abrigos. É o caso da cobertura com superfície vidrada que, apesar de dizerem que tem uma película protectora, não assegura o sombreamento no interior do abrigo. Mas, também, a “peregrina” ideia de, em alguns locais, se colocarem os abrigos de costas para a faixa de rodagem; inicialmente justificada como forma de proteção contra as projeções de água pelas viaturas (não seria mais fácil consertar os arruamentos?) e, depois, com a estreiteza dos passeios (embora existam situações em que tal não ocorre, como é o caso, por exemplo, da Rua da Constituição).
Simultaneamente, e apesar de um atraso de vários anos na substituição dos abrigos, a Câmara não tomou nenhumas medidas estruturais para facilitar a colocação de abrigos verdadeiramente funcionais, em simultâneo com o facilitamento do transporte público. Por exemplo, em inúmeros locais teria sido possível criar reentrâncias dos passeios nas faixas de rodagem, alargando os mesmos sem que isso prejudicasse a circulação, dado que, face ao estacionamento (abusivo ou não) nas proximidades das paragens, os autocarros já não conseguem estacionar junto aos passeios, obrigando os utentes a terem de se deslocar para acederem aos mesmos e a partir de um plano mais baixo (o que dificulta a acessibilidade de utentes com maiores dificuldades de locomoção).
A juntar a todos estes aspectos negativos, a forma como se está a processar a substituição dos abrigos é demonstradora de um profundo desprezo pelo conforto dos utentes. Efectivamente, esta substituição deveria ocorrer abrigo a abrigo e não, como está a acontecer, com a desmontagem dos abrigos antigos sem a sua reposição imediata. Fruto desta situação, há hoje, na cidade, dezenas de paragens sem qualquer abrigo, onde os utentes não se podem sentar ou recolher informações sobre os horários e percursos e sujeitos aos elementos. O que, com a aproximação das chuvas, se traduz numa verdadeira falta de respeito pelos utentes, susceptível de desincentivar o uso do transporte público.
A CDU, compreendendo e associando-se à indignação manifestada pelos utentes dos transportes públicos na cidade, reivindica da Câmara Municipal do Porto a adopção das medidas adequadas à correção desta situação e, em especial, a adopção de medidas que impeçam a remoção de abrigos antigos enquanto não forem repostos os abrigos já retirados.
Porto, 21 de Setembro de 2022
A CDU-Coligação Democrática Unitária / Porto