Conversas à Moda do Porto – Opinião de Rui Sá

 Artigo publicado no semanário “Grande Porto” em 4 de Dezembro de 2009

A Rádio Festival convidou representantes de diversas forças políticas, entre os quais me incluo, para terem uma crónica semanal intitulada “Conversas à Moda do Porto”. Depois de três crónicas, as pressões da coligação PSD/CDS na Câmara do Porto para me retirarem do ar ou para condicionarem o conteúdo das mesmas começaram a fazer-se sentir. O artigo do meu colega de vereação, Manuel Sampaio Pimentel (MSP), na última edição do “Grande Porto“, insere-se nessa pressão.

A forma insultuosa como o faz, chamando-me mentiroso, não me merece comentários. Porque tenho demasiado respeito por aquilo que os meus pais me ensinaram.

 Seja como for, aproveito a oportunidade para esclarecer alguns pontos que considera serem “mentiras”, “meias verdades”, ou “insinuações”.

Em Março de 2005 e em Janeiro de 2009 desloquei-me à “Ilha do Mesquita”, em Francos, onde viviam, em condições miseráveis, 8 famílias. Mais tarde, Denunciei o que vi nas reuniões de câmara e nos ofícios que escrevi aos vereadores com competências na matéria. Em reacção, Rui Rio (RR) limitou-se a concluir que eu estava a denegrir a imagem idílica que, no seu gabinete, constrói sobre a cidade. Na recente campanha eleitoral, o mesmo RR, pressionado pelos moradores, passou na “ilha do Mesquita” e, chocado com o que viu, rapidamente resolveu o problema. Ainda bem. Mas é a mais pura das verdades que, se me tivesse ouvido, o problema teria sido resolvido muito antes. E que Lara, a bebé que vi na barriga da mãe em Janeiro, podia ter nascido numa casa, em vez de ter vivido os seus primeiros meses num barraco insalubre. Eu sei que a verdade dói. E também devia doer a quem se reclama da Democracia-Cristã. Mas é apenas a verdade.

Ficou MSP também aborrecido por eu ter denunciado que o futuro detentor de 60% do Fundo Imobiliário que vai gerir o negócio do bairro do Aleixo foi deputado do PSD e colega de bancada de RR. Alega MSP que esta constatação é uma “inadmissível insinuação”. Ora, na última campanha eleitoral, RR, indignou-se, no debate da RTP, por Elisa Ferreira (EF) ter na sua Comissão de Honra dois proprietários dos terrenos do Parque da Cidade. Imagino MSP, a aplaudir “Bravo!” em frente ao televisor. Pela minha parte, sou coerente: nesse mesmo debate disse, olhos nos olhos, a EF, que me parecia mal essa situação. É que, meu caro MSP, a visão maniqueísta de que aos “nossos” tudo se justifica e aos “outros” nada se perdoa é inaceitável! E repito outras verdades: a proposta que aprovou prevê 26 milhões de euros de lucro e uma taxa de rentabilidade anual de 22%. O Aleixo é, de facto, um grande negócio…

Por último, MSP lamenta o facto de eu ter qualificado como eleitoral o protocolo que o seu colega de vereação e de partido, Álvaro Castello-Branco, assinou com uma associação de S. Nicolau para assegurar a limpeza da freguesia. Eleitoral porquê? Porque uma semana depois, o presidente dessa associação foi apresentado como candidato do PSD/CDS à presidência daquela junta. E porque essa mesma associação subcontratou depois, com dinheiros públicos, uma empresa privada para tratar da limpeza, cujo sócio gerente também foi candidato do PSD/CDS à mesma junta. Pior: cerca de um mês após as eleições e com a derrota, na freguesia, do PSD/CDS, o protocolo terminou porque “não resultou”!… Estou convencido que se Paulo Portas soubesse da situação, e a câmara não fosse também dirigida pelo CDS, faria um directo nos telejornais…

Quanto à gestão dos SMAS, aguardo outra oportunidade para pôr os pontos nos is. Não porque me faltem argumentos mas porque me falta espaço.

Estes são apenas factos. Que à “moda do Porto” divulguei nas minhas crónicas da rádio, depois de as ter abordado nas reuniões de cãmara perante o silêncio, pouco “Tripeiro”, de MSP.

Porto, 2 de Dezembro de 2009

Rui Sá, Engenheiro e Vereador da CDU na Câmara Municipal do Porto

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