Crónicas da Rádio – Opinião de Rui Sá: O “negócio” da demolição do Bairro do Aleixo

Crónica radiofónica emitida na Rádio Festival em 18 de Novembro de 2009 

Esta semana, a coligação PSD/CDS na Câmara do Porto aprovou a demolição do bairro do Aleixo, com a expulsão dos seus moradores para outros locais e a transformação do espaço num condomínio de luxo.

É para mim evidente que a situação actual do bairro do Aleixo não se pode manter. Apesar da qualidade e da dimensão das casas, a verdade é que anos e anos de esquecimento por parte da Câmara infernizaram a vida da maioria dos seus habitantes. Por falta de manutenção, associada à falta de cuidados de muitos moradores, e também por causa do flagelo da droga, que se acentuou após a demolição do bairro S. João de Deus. Por isso, defendo, há muito tempo, a demolição do bairro do Aleixo. Mas, ao contrário de Rui Rio (que no início se comprometeu a manter o Aleixo de pé), defendo que o Aleixo deve ser demolido mas que no mesmo local deve ser construído um novo bairro, destinado aos moradores que nele quiserem continuar a viver. O novo bairro, com edifícios mais baixos, teria, também, um menor número de casas. Isto seria possível porque se daria a possibilidade, às famílias que quisessem sair de imediato, de se transferirem para outros bairros.

Não foi essa a proposta que vingou. E, para que os ouvintes fiquem com uma ideia daquilo que foi aprovado na reunião da Câmara da passada 3ª feira, aqui vão alguns dados que fazem pensar.

Sabe o ouvinte que o principal investidor no negócio é um ex deputado do PSD na Assembleia da República? Ou que a operação imobiliária, de acordo com o plano de negócios apresentado, é altamente lucrativa, prevendo um lucro de mais de 26 milhões de euros?

Sabe que, em termos médios, cada um dos 120 apartamentos que se prevêem construir serão vendidos a 630 mil € (sim, ouviu bem, 630 mil euros)?!

Enquanto isso, os actuais moradores do Aleixo terão de ir viver, por exemplo, para 70 habitações sociais que serão construídas na zona da Mouteira. Na prática, isto significa juntar mais um bairro à maior concentração de habitações sociais existente no Porto – recordo que no local já se encontram os bairros de Lordelo, Pinheiro Torres, Pasteleira velha, Pasteleira nova, Mouteira e Condominhas. São 1963 casas no total!

E sabe o ouvinte que serão construídas cerca de 80 casas nos terrenos do antigo bairro do Leal, em Santo Ildefonso?. Bairro do Leal cujos moradores (alguns a residirem no local há mais de 70 anos) foram expulsos, nos últimos cinco anos, para bairros periféricos.

Por isso digo: a demolição do Bairro do Aleixo não visa resolver o problema dos seus moradores. É, isso sim, uma operação especulativa. Objectivo: expulsar moradores pobres de um dos terrenos com melhores vistas do Porto, atribuindo-o a famílias ricas. Como se os pobres não tivessem o direito a viver em casas com vistas para o Douro.

Porto, 18 de Novembro de 2009

Rui Sá, Engenheiro e Vereador da CDU na Câmara Municipal do Porto