Opções – Artigo de opinião de Rui Sá

 

É sabido que, como engenheiro mecânico, tenho, como a quase totalidade dos meus colegas de profissão, uma verdadeira paixão pelos desportos motorizados.

Não tenho, assim, nenhuma discordância com a realização das corridas da Boavista, nem qualquer problema em reconhecer a importância que as mesmas podem ter para a notoriedade do Porto e para a atractividade da Cidade nos fins-de-semana em que se realizam. Discordo no entanto, em absoluto, que o Município do Porto seja o organizador das mesmas, defendendo que essa organização deveria pertencer a entidades privadas, limitando-se o apoio da Câmara à componente logística.

As recentes notícias, sobre o pagamento de subsídios a proprietários de automóveis antigos de fórmula 1, para “desfilarem” no Porto, são demonstrativas do estado a que as coisas chegaram com a actual maioria camarária e tornam claro que a autarquia deve deixar de ser a organizadora destas corridas.

O Vereador da Cultura foi lesto em justificar e defender este subsídio (que, disse-o, atingiu os 77,5 mil euros). E reafirmou que isso permitiu “tornar as corridas mais atractivas” e “ter três F1 que foram campeões do Mundo”.

Não deixa de ser interessante fazer algumas comparações com outros apoios dados pelo Município. Ao Fantasporto (para lá da cedência do Rivoli, que se pode comparar, do ponto de vista do apoio, à cedência das ruas da cidade para os corredores), o apoio foi “até 30 mil euros”. Ao FITEI, o apoio foi de “aquisição” de um espectáculo de rua (acesso livre, portanto), no valor de 30 mil euros. O Intercéltico, este ano não se realizou porque, segundo os organizadores, a maioria camarária nem se dignou responder-lhes (e, face a esta denúncia pública, ainda os apelidou de “caça subsídios” – presumo que idêntico epíteto não se aplicará aos proprietários dos antigos F1…). Ao Fazer a Festa, não foram atribuídos 20 mil euros previstos (vendo-se o Festival obrigado a transferir-se para a Maia), nem à Fundação Eugénio de Andrade os 15 mil euros aprovados, porque, com dignidade, as respectivas direcções não aceitaram a imposição da célebre cláusula censória que os proibia de criticarem Rui Rio (e que foi considerada ilegal pelo Provedor de Justiça) – não consta que idêntica cláusula tenha sido imposta aos “pilotos”… Serralves e a Casa da Música, dois ex-libris do Porto, tiveram, em 2008, apoios de 195 e 230 mil euros, respectivamente, valores que sendo superiores aos obtidos pelos proprietários dos F1 antigos, permitem constatar o exagero do subsídio que estes receberam, face à importância estratégica daqueles dois equipamentos.

Por aqui se vê que o que está em causa não é, apenas, o escândalo de dinheiros públicos pagarem subsídios a “pilotos” milionários para poderem exibir os carros que compraram a peso de ouro (e cuja fonte de receita deviam ser os apoios publicitários que ostentam e não os dinheiros públicos). O que está em causa é, também, a opção, política, na forma de utilização desses dinheiros públicos, que considera mais importante esse subsídio do que o apoio a iniciativas e instituições com a importância (estruturante) daquelas que acima referi. E essa opção decorre, naturalmente, de diferentes concepções sobre a Cidade e o papel do Município.

Porto, 28 de Agosto de 2009

Rui Sá

Vereador e Candidato da CDU a Presidente da Câmara Municipal do Porto

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